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Longevidade em perigo
Jussara Câmara

Adicionado ao site em 15.07.2003


No Brasil, o percentual de crianças vem se reduzindo no conjunto demográfico, ao passo que crescem as proporções de idosos.

No ano 2000, a estimativa era de 29,7% de pessoas com menos de 15 anos e 7,7% com 60 anos ou mais, o que representava cerca de 13 milhões de idosos. A projeção para o ano 2025 é que estes números dobrem, passando a 15% da população, o que equivalerá a 34 milhões de pessoas idosas.

No início do século a expectativa de vida era de 33,7 anos, estima-se que para o ano 2025, esta expectativa seja de 75,3 anos. Este crescimento está associado aos avanços da infra-estrutura básica, da terapêutica e das tecnologias empregadas em relação a várias doenças.

No entanto, uma pesquisa feita pelo Centro Latino-Americano de Estudos sobre Violência e Saúde (Claves) da Fiocruz registrou um aumento das mortes violentas com pessoas com mais de 60 anos. Estas são divididas entre as acidentais, ( devidas ao trânsito, transporte, quedas, envenenamentos, afogamentos e outros acidentes ) e entre as mortes intencionais, ( homicídios, suicídios e outras).

Maria Cecília de Souza Minayo, fundadora do Claves há 13 anos, explicou que a pesquisa de cunho científico e social, não tinha o objetivo de estudar a terceira idade, mas os números altos em relação aos óbitos nesta faixa etária, por "causas externas", chamaram a atenção. Elas representam a sexta causa de morte entre nossos idosos, perdendo apenas para as doenças respiratórias, tumores, doenças endócrinas, doenças do aparelho digestivo e doenças infecciosas.

Na verdade, as causas violentas passaram, sobretudo na década de 80, a representar uma das principais causas de morte no país, visivelmente presentes nas áreas mais urbanizadas do Brasil, como as capitais das Regiões Metropolitanas. A partir de 1989, estas mortes assumiram o segundo lugar, perdendo apenas para as doenças do aparelho circulatório.

Por outro lado, pesquisa do Departamento de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, indica que os anos 90 foram a década do idoso no Brasil. Comparada a outros grupos etários, a população com mais de 60 anos conseguiu os maiores avanços em acesso a serviços públicos. O problema agora é como manter esta conquista.

ESTADOS PERIGOSOS

A esperança de vida como a de morte, é diferenciada pelos fatores estruturantes, ou seja, pela classe, pelo gênero, e pela etnia, e influenciada por condicionantes como a educação, as condições de existência, trabalho e saúde. Além disso, existem grandes diferenças no tempo médio de vida entre as várias regiões do país.

No Rio de Janeiro que é o estado, que concentra o maior número de idosos do país, verificou-se que a cada 100.000 pessoas nesta faixa etária, 250 morrem por causas externas.

Segundo Maria Cecília, o Rio de Janeiro está entre os seis estados brasileiros com o mais alto índice de mortalidade por causas externas. Estes índices se dividem por bairros. Quem nascer no Méier, pode esperar viver até os 83 anos mas, se viver em Ramos, deverá viver até os 50 anos. Os outros estados igualmente perigosos são Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Roraima.

MUDANÇAS NECESSÁRIAS

Estudo a cerca da mortalidade de idosos no Estado do Rio de Janeiro mostrou que as principais causas de óbitos neste grupo são os acidentes de trânsito e transporte, as quedas e os homicídios, sendo os homens os que estão mais expostos ao risco de morte por causa externa.

As mulheres na terceira idade lideram o número de óbitos por causa de quedas, que representam 16,6% das mortes de pessoas idosas provocadas por causas externas.

"O idoso é mais vulnerável a todas as violências. Por ser mais lento, não consegue atravessar no tempo estipulado pelos sinais nas ruas. Faltam também rampas e passarelas para travessia segura. Avenidas muito largas, carros em alta velocidade, tudo isso aumenta os riscos'', afirma a pesquisadora da Fiocruz.

Quanto as quedas em lugares públicos, demostram que faltam lugares apropriados na cidade para a locomoção desse público, normalmente, existem buracos no chão e faltam corrimões e rampas.

Em relação aos tombos em casa, as mulheres, na faixa dos 70 ou mais anos de vida, lideram o número de mortes, devido a maior incidência de osteoporose no sexo feminino. Esses acidentes ocorrem mais freqüentemente entre o quarto e o banheiro.

Mas, já existem adaptações funcionais no mercado - texto abaixo- que podem ser usadas em casa para evitá-los.

Em 1980, os homicídios representavam 7,2% da causa da morte das pessoas de terceira idade no Brasil. Em 1998, o índice saltou para 9,6%.

A advogada Luzanilda Moreira, responsável pelo Núcleo Especial de Atendimento à Pessoa Idosa e da Mulher vítima de violência, atende diariamente uma média de 80 casos com reclamações variadas, entre elas, denúncias de maus-tratos e abandono dos familiares contra o idoso. " Os casos mais comuns são problemas na família e violência doméstica. Quem denuncia é outro idoso ou vizinhos horrorizados com o estado lastimável de sujeira, subnutrição e de agressão física em que se encontram as vítimas", relata.

A defensora pública explica que já existe um isolamento social do idoso, que se agrava na própria família, que não o respeita. "A fim de não ficar sozinho, o idoso aceita ter parentes próximos em sua casa, abrindo mão de muita coisa, diminuindo seu espaço. "Ele não questiona, acha normal, já que sustentou antes, em continuar pagando pelas despesas dos filhos, netos. Só que quando apuramos, o problema extrapola o bom senso, qualquer conceito humanitário", informa Luzanilda.

Tanto Maria Cecília como Luzianilda, os laços familiares estão hoje em dia muito frouxos, não havendo o respeito devido aos idosos, que também é responsável por ele.

Não é só o Rio e outros estados que não estão preparados para atender essa população crescente, precisamos de uma nova conceituação social e cultural e Faltam políticas públicas mais enérgicas contra a violência e para assuntos ligados a pessoas da terceira idade. Além de, movimentos de defesa dos direitos deste segmento. Quem não cuida de seus idosos, não sabe também cuidar de si próprio.




 Maria Cecília de Souza Minayo, é psicóloga, mestra em antropologia, doutora em Saúde pública, professora e pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz, coordenadora científica do Centro Latino-Americano de Estudos sobre Violência e Saúde (Claves/Fiocruz), editora científica da revista " Ciência e Saúde Coletiva" e consultora do CNPQ, CAPES, Ministério da Saúde, OPAS, FAPERJ,FAPESP. .




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