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Cuidados com a Saúde Bucal do Idoso
Arthur Eumann Mesas

Adicionado ao site em 06.10.2003


A boca merece muita atenção quando falamos em pessoas idosas, porque é um local que de alguma maneira nos mostra como vai a saúde de uma maneira geral. Uma pessoa que tem bons dentes pode sorrir, conversar, se alimentar, namorar, falar, e se relacionar com as outras pessoas de uma maneira muito diferente daquela que tem dentes faltando, quebrados ou cariados, gengiva que sangra, mau hálito, próteses desadaptadas e frouxas.

Não há dúvidas que, além do aspecto psicológico envolvendo a auto-estima, uma situação dessas pode causar outros problemas decorrentes da má alimentação, pela preferência por alimentos mais pobres do ponto de vista nutricional, e mesmo pela ingestão praticamente sem mastigar, dificultando muito a digestão e a absorção dos nutrientes pelo organismo.

Com o envelhecimento, algumas alterações ocorrem na boca, o que deve mudar é a idéia que temos de que perder os dentes e usar um par de dentaduras é uma conseqüência natural da idade. A tendência atual é que o indivíduo envelheça com os dentes. Hoje se fala em prevenção em todos os aspectos. Não só em prevenção de cáries, mas prevenção de câncer bucal, de inflamações na gengiva, sempre no sentido de poupar as pessoas de sofrimentos com dor e perda de dentes. Os principais problemas que costumam ocorrer na boca na terceira idade são:

Boca seca: hoje se sabe que isso é muito mais relacionado com o uso de medicamentos para tratamento de doenças crônicas do que com o envelhecimento em si. Os casos devem ser analisados individualmente por um dentista, e de acordo com os problemas decorrentes dessa secura (entre eles o mau hálito, ardência e até ulcerações, que trazem um grande desconforto), o médico deverá ser consultado para ver se há outra opção de medicamento. Em alguns casos, a secura da boca pode ser atenuada com o uso de saliva artificial (que deve ser prescrita pelo dentista), ou mesmo com gelo triturado colocado embaixo da língua quando necessário.

Mau hálito: normalmente é decorrente da diminuição da quantidade de saliva, que faria a limpeza constante da boca, e da presença de resíduos sobre a língua, dentes e gengiva, devido à má higienização dos dentes e das próteses.

Cáries: dependendo da condição das restaurações presentes nos dentes, e dos cuidados tomados na escovação e no uso do fio dental, as cáries e infiltrações podem ocorrer como em qualquer outra idade, e devido à retração gengival que acontece com o avanço da idade, esses problemas atingem principalmente a região das raízes expostas.

Doenças da gengiva: gengivite e periodontite são as mais comuns, relacionadas à inflamação e infecção dos tecidos que sustentam os dentes. Sangramento gengival, mobilidade dentária, mau hálito e dores ao mastigar podem ser sinais da presença desses problemas, que se não receberem a devida atenção, podem levar à perda dos dentes.

Próteses desadaptadas: a gengiva que sustenta uma prótese sofre alterações com o tempo e com o uso, portanto, a sua adaptação tende a se modificar. Uma prótese desadaptada e “frouxa”, além de ser desconfortável para conversar e para se alimentar, favorece o aparecimento de infecções fúngicas, feridas, aftas, hiperplasias (crescimento gengival), que se não forem tratadas podem predispor o paciente a problemas ainda mais graves, como o câncer bucal.

O que fazer?

O ideal é que o paciente seja examinado por um dentista para identificar a causa dos problemas encontrados, e o tratamento pode ser desde uma substituição de um medicamento que causa a boca seca, ou de uma prótese desadaptada, limpeza dos dentes e gengiva, ou ainda pequenos procedimentos cirúrgicos, e devem sempre ser acompanhados de uma adequação dos procedimentos de higiene usados pelos cuidadores ou pelo próprio idoso, que seriam:

Escovação dos dentes após as refeições, com escova macia, sempre fazendo movimentos delicados e circulares em todos os lados dos dentes, e de preferência usando o fio dental após todas as refeições ou ao menos uma vez ao dia. Algumas observações:

  • Recomenda-se que quando haja necessidade da atuação de um cuidador, essa higiene seja feita logo após a refeição, pois é um momento em que o paciente precisa ficar sentado por um tempo para não ter refluxo, e está em melhores condições de colaborar.

  • Existem no mercado escovas elétricas que auxiliam muito na limpeza dos dentes e gengiva, e é uma opção que traz uma relação custo-benefício muito boa.

  • Escovação da língua com escovas ou com outros dispositivos plásticos encontrados (raspadores de língua), ou mesmo uma colher, removendo cuidadosamente resíduos, até um limite que não provoque náuseas.

Ao falarmos de pacientes com Alzheimer ou outras demências, devemos ter um grande cuidado e muita sensibilidade para perceber quando é o momento de sugerir uma ajuda para a higiene bucal, porque é comum ignorar problemas na boca por vergonha ou por medo, sem contar que com a evolução da doença, a diminuição da habilidade manual irá interferir diretamente na qualidade da higiene bucal.

A sugestão é comentar sobre a preocupação com os próprios dentes, procurar observar o paciente fazendo a higiene, observar como ele se alimenta, como seleciona os alimentos no prato, a dificuldade que tem para mastigar e deglutir e até mesmo se oferecer para mostrar uma melhor maneira de limpar os dentes. Para aquelas pessoas que já utilizam próteses, após todas as refeições, essas devem ser removidas e primeiramente a boca deve ser limpa. Caso não haja nenhum dente presente, as bochechas, a língua, as gengivas e o céu da boca devem ser suavemente massageados por uma escova macia ou mesmo por uma gaze ou uma fralda embebida em água ou soro fisiológico. Recomenda-se ainda que o paciente beba um pouco de água em seguida, para concluir a ingestão de restos alimentares.

Quanto à higiene dessas próteses, a orientação é que seja feita com um creme dental normal ou com sabão neutro e uma escova pequena e de cerdas médias. Deve ser evitado o uso de bicarbonato de sódio ou outros produtos abrasivos, porque estes deixam a superfície da prótese mais áspera, o que facilita o acúmulo de pigmentos e placa bacteriana. As próteses devem ser escovadas o mais próximo possível da pia, ou com a cuba cheia de água, para evitar fraturas em caso de quedas. Em casos onde já se observa manchas e crostas nas próteses, pode-se deixá-las durante a noite em um recipiente com uma parte de água sanitária para duas partes de água filtrada e caso as manchas não desapareçam, um dentista deverá ser consultado para avaliar a real condição dessas próteses.

É importante que os cuidadores e pessoas ligadas ao idoso tenham sempre o cuidado de observar a presença de dentes quebrados, cariados, amolecidos, com sujeira acumulada, gengivas inflamadas e com sangramento, mau-hálito, língua “grossa”, manchas brancas ou escuras, caroços, inchaços em lábios, bochechas e língua, e diante dessas situações procure uma avaliação profissional.

Muitas pessoas se chocam ao ver pela primeira vez a situação da boca de seus pais ou entes idosos, e é sem dúvidas muito pior que isso aconteça em estágios avançados de doenças como o Alzheimer, onde um tratamento adequado seria mais difícil de ser realizado, havendo a necessidade de medidas mais radicais, muitas vezes extraindo dentes que poderiam ser tratados. É muito importante criar oportunidades para observar a boca periodicamente e procurar buscar respostas para dúvidas com o dentista, médico ou com o pessoal de saúde envolvido nos cuidados.



 Arthur Eumann Mesas é Cirurgião Dentista – UNESP, Pós-graduando em Saúde Coletiva – UEPG e Pesquisador voluntário do Projeto de Assistência Interdisciplinar ao Idoso em Nível Primário - UEL.




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