Ao contrário do que muitos pensam, a Aids não atinge somente os jovens. Ela vem sendo registrada de forma surpreendente entre os idosos. Para se ter uma idéia, segundo dados do Ministério da Saúde, 2% da população acima de 60 anos são portadoras do vírus da Aids.
Isto significa que 5.500 idosos têm a doença. Só na capital mineira, Belo Horizonte, 3% da população está com o vírus. Um número acima da média nacional.
A assessora da unidade de preservação do programa da Aids do Ministério da Saúde, Vera Da Ros, atribui esse aumento a dois fatores: primeiro à nova geração de idosos que possuem recursos que prolongam a qualidade de vida, o que conseqüentemente prolonga também a vida sexual.
O segundo fator é que ainda existe o tabu de se falar sobre a sexualidade na terceira idade. Para a assessora, é justamente aí que mora o perigo porque, comprovadamente, os casos infecção de Aids nessa faixa etária, são sempre por contaminação sexual, e na maioria das vezes entre heterossexuais.
Família
Vera Da Ros afirma que o idoso nessa faixa etária ainda está ligado à família, mas a falta de aceitação por parte dos familiares e dos próprios médicos de que ele ainda está ativo sexualmente faz muitos estragos.
"Isso traz graves conseqüências porque a prevenção só vai acontecer se os familiares e os profissionais de saúde estiverem atentos. É importante que ao receber um idoso no consultório ou no posto de saúde, que seja apenas para medir a pressão arterial, lembrar e alertar a ele sobre a importância da prevenção da mesma forma que se fala ao adolescente."
Preocupado com essas estatísticas, além da política nacional do idoso, o Ministério da Saúde está voltando os olhos para esse seguimento social reaplicando o Programa Nacional de Combate a Aids e das doenças sexualmente transmissíveis.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria no Distrito Federal, Renato Maia, o crescente número de notificações de Aids entre os idosos é uma combinação de fatores. "Mas o maior deles é a falta de identificação com as campanhas de orientação e prevenção da AIDS, que têm sempre como foco o jovem. Então, o idosos não se identifica como um doente em potencial".
Cultural
Maia concorda com o Ministério da Saúde que o fator cultural é muito forte. "O homem mais velho tem mais dificuldade de aceitar o preservativo, porque ele associa isso à sua juventude, quando não se usava camisinha, e quando usada tinha o destino único e exclusivo à prostituição."
Um outro fator segundo Maia, é que o homem idoso só tem ereção parcial, o que dificulta a colocação do preservativo. Além disso, tem o fator comportamental. "O homem mais velho sempre busca uma mulher jovem que, na maioria das vezes, acaba sendo uma prostituta."
Hoje o homem idoso tem acesso à medicação com função sexual, como o Viagra por exemplo, o que faz dele um risco potencial as doenças sexualmente transmissível e a Aids. Por isso o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria, Renato Maia, defende uma maior atenção a sexualidade do idoso.
"A verdade é que médicos que lidam com idoso devem ficar atentos, porque uma das manifestações de Aids, na velhice, é o quadro de demência. Muitos desses idosos não desenvolvem o quadro clássico, mas desenvolvem um quadro demencial em decorrência da Aids."
Segundo ele, a atenção para esses casos devem ser redobrada se o idoso tem um passado de vida promíscua.
Para o Renato Maia, além da atenção especial, deve haver um comprometimento das campanhas colocando o idoso no grupo de risco, porque só assim haverá uma mudança cultural.
E é exatamente sobre essa mudança cultural, e difundindo o uso de preservativos femininos entre essa faixa etária que o ministério da saúde vai atacar para reduzir o número de registros de Aids na terceira idade.
Com Agência Brasil
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