Terminou em atrito e mal-estar entre o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) a sessão de ontem à tarde no plenário da Casa. ACM chegou a acusar Sarney de dar um "golpe sujo" ao suspender as votações previstas para que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) pudesse continuar a examinar a reforma da Previdência. Mais tarde, porém, pediu desculpas a seu modo.
Sarney, que obteve a solidariedade dos líderes partidários, reagiu irritado às palavras de ACM, deixando claro ter se sentido ofendido. A confusão no plenário começou com o requerimento apresentado pela liderança do governo solicitando que a sessão fosse adiada. Sarney leu o requerimento e suspendeu a reunião. Deixou então a mesa diretora, passando a presidência para Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO).
Logo em seguida, ACM protestou contra a decisão: "É um golpe sujo que não pode ser aceito. Temos de respeitar o direito das minorias. Não se pode admitir o levantamento de uma sessão." Sarney resolveu, então, retornar à mesa para responder a ACM: "O senador Antonio Carlos me conhece há mais de 40 anos e sabe que não sou capaz de um gesto sujo." O presidente do Senado solicitou aos líderes partidários que formalizassem o pedido de adiamento da votação da ordem do dia, não sem antes se queixar diretamente a ACM:
"Preferia não ter tido nenhum dos apoios que tive aqui e não ter tido a ofensa de Vossa Excelência." Em seu discurso com o pedido de desculpas, o senador baiano garantiu que não teve a intenção de dizer que Sarney praticara um golpe sujo. "O que quis dizer é que havia um golpe político nesse assunto", afirmou. ACM alegou que o regimento do Senado prevê o adiamento da ordem do dia somente com a concordância de todos os partidos.
Mas, em seu pedido de desculpas, ACM fez questão de repetir que Sarney errou ao adiar a sessão. "Vossa Excelência não tem segundas intenções, mas pôs em votação erradamente o pedido de adiamento. Perdoe-me. Vossa Excelência não errou intencionalmente, mas errou na melhor das intenções." O pefelista disse ainda esperar que Sarney não guardasse mágoa do episódio e que não teve a intenção de ofendê-lo. Sarney foi rápido na resposta e deixou claro que não aceitou o pedido de desculpas de ACM.
Os líderes dos partidos de oposição foram solidários à Sarney. Mas argumentaram que não havia acordo para que a sessão deliberativa do Senado fosse adiada. "Sinto-me honrado em ser presidido pelo presidente Sarney. Mas a praxe da Casa não pode ser colocada de lado e ninguém me consultou sobre esse adiamento", observou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
"O senador Antonio Carlos pode ter exagerado, mas agiu com a energia de quem defende sua posição e de seu partido", disse o líder do PFL, José Agripino Maia (RN).
Depois da confusão, a sessão acabou não acontecendo. Os senadores deveriam ter votado o projeto do Primeiro Emprego, uma das bandeiras do governo Lula.
A proposta dificilmente será votada hoje porque chegaram ao Senado duas medidas provisórias que estão trancando a pauta da Casa.
Repórter Eugenia Lopes - Brasília
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