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A melhor maneira de manter a
memória saudável é usá-la sempre

MARCOS DÁVILA

O homem nasce com aproximadamente 100 bilhões de neurônios. Mas onde vai parar esse batalhão de células quando mais precisamos delas? Não é raro tentar acessar a memória em vão na hora de lembrar o item que falta na compra do supermercado, ao passar o número do celular recém-comprado para alguém ou até mesmo para recordar o que comemos no almoço. Com a avalanche de informações que recebemos diariamente, é impossível se lembrar de tudo. Mas como reter aquilo que é essencial?

Não espere saídas milagrosas, o segredo é botar a cabeça para funcionar. "Quanto mais usamos a memória, mais a preservamos", afirma o neurologista Wagner Gattaz, um dos coordenadores do recém-aberto Centro de Estudos de Distúrbios da Memória, do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O centro atende pessoas que sofrem distúrbios graves de memória e também aquelas que apenas querem fazer um check-up para prever problemas futuros.

"Qualquer um pode fazer esse check-up, mas ele somente faz sentido para pessoas que sentiram uma piora de seu rendimento intelectual, como dificuldade de atenção e concentração e esquecimentos freqüentes, por exemplo. Muita gente quer saber se isso tem a ver com a idade ou se é algum distúrbio", diz Gattaz. Segundo ele, é natural que a memória fraqueje quando se chega a uma idade mais avançada.

"Antes, as pessoas encaravam com mais normalidade a perda de memória decorrente da idade. Hoje, da mesma forma que há uma frenética busca pela juventude do corpo, há também uma procura preventiva por exercícios para conservar a mente", afirma a pesquisadora Ana Alvarez, que oferece treinamento para pessoas que querem desenvolver agilidade mental -não só para prevenção, mas também para conseguir resultados imediatos.

É o caso da administradora de empresa Simone Carrera, 32, que procurou ajuda para se destacar no âmbito profissional. "Tenho objetivos que dependem da minha memória. Estudo inglês e tenho intenção de aprender mais duas línguas. A gente convive com vários eventos simultâneos. Temos de ter uma memória e uma atenção programadas", afirma Simone, que se sentia insegura só de pensar em encontrar alguém conhecido e não lembrar o nome ou em esquecer um número em uma reunião importante de trabalho.

Além de uma agenda organizada e um palmtop, a administradora conta ainda com vários tipos de "post-it" colados no carro, no criado-mudo, na porta de casa e no espelho do banheiro, só para garantir.

Segundo a consultora Alvarez -que também é autora dos livros "Deu Branco" (ed. Best Seller) e "Cuide de sua Memória" (ed. Nova Cultural)-, esse tipo de ferramenta externa para ajudar a desocupar a memória dos assuntos menores de fato ajuda. Diz também que não há um método ideal, cada pessoa pode criar o seu.

O administrador aposentado Antonio Andrades, 54, inventou o seu jeito. Ele espalha bilhetes pelos degraus da escada de sua casa para lembrar-se de seus compromissos sempre que passa por ali. Mas, segundo ele, o grande segredo para manter a memória em dia é ter uma vida ativa. "Procuro fazer coisas que exigem atenção. Trabalho como voluntário fazendo contabilidade para duas escolas, estudo espanhol e estou sempre lendo. Sei que isso é importante", afirma Andrades.

No entanto, o excesso de atividade também tem seus reveses. Durante o treino na academia, a simples passagem de um aparelho para o outro bastava para que a comerciante aposentada Heloísa Alex, 60, esquecesse os pesos da sua série de exercícios. A falta de concentração também atrapalhava suas atividades mais habituais, como a leitura. Ao procurar ajuda, Heloísa descobriu que seus esquecimentos não estavam relacionados com a idade, mas com o estresse.

"Muitas pessoas chegam ao consultório achando que estão com algum distúrbio de memória, mas na verdade estão com depressão, sem motivação ou ansiosas demais", afirma a psicóloga Valeria Bellini Lasca, mestre em gerontologia pela Unicamp, que desenvolveu estudo sobre treinamento de memória.

De acordo com a psicóloga, o estresse, a ansiedade e a falta de motivação podem prejudicar o funcionamento da memória. "Com sobrecarga de trabalho, de emoções ou de informações, chega uma hora em que o organismo não responde mais", afirma a psicóloga.

Para um dos maiores pesquisadores do tema, o neurocientista argentino naturalizado brasileiro Ivan Izquierdo, a leitura continua sendo o melhor meio para desenvolver a memória, pois é a única atividade que estimula todas as suas formas ao mesmo tempo.

"No momento em que a pessoa terminou de ler a palavra "árvore", em centésimos de segundo passam pela sua mente todas as árvores que ela conheceu na vida. Tudo isso inconscientemente", afirma o cientista, que lançou neste ano os livros "Questões sobre Memória" (ed. Unisinos) e "A Arte de Esquecer -Cérebro, Memória e Esquecimento" (ed. Vieira & Lent).

Segundo ele, já foi comprovado que pessoas que têm uma constante atividade intelectual têm menor chance de apresentar distúrbios como o mal de Azheimer. "Mesmo nos portadores, a manifestação da doença demora mais e, quando aparece, tem menor gravidade", afirma.

Não é à toa que a deusa que representa a memória na mitologia grega, Mnemosine, gerou com Zeus as musas responsáveis pela inspiração de poetas, literatos e filósofos.

 

Fonte: REPORTAGEM LOCAL – FOLHA DE SÃO PAULO. FOLHA EQUILÍBRIO – 28/10/2004


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