O Comitê de Política Monetária (Copom) confirmou a expectativa do mercado e cortou a taxa básica de juros da economia, a Selic, pela primeira vez desde abril do ano passado. Com a decisão anunciada nesta quarta-feira (14), a Selic caiu para 19,5% ao ano.
Por mais que a decisão seja bem-vinda, não deve alterar, de maneira significativa, a vida do brasileiro. Até porque a Selic ainda se encontra muito acima do patamar de setembro do ano passado, quando a taxa era de 16,25% ao ano. Para alguns analistas, o corte poderia ter sido maior, não fosse o recente aumento dos combustíveis, que poderia colocar nova pressão nos preços.
Mas, afinal: o que é, e para que serve a Selic?
De forma simplificada, a Selic é a taxa de juros referencial para todas as operações financeiras do mercado brasileiro. Ou seja, quando um banco define o custo de financiamento ou a taxa pela qual a sua conta de depósito vai ser remunerada, a taxa Selic é utilizada para definir o que chamamos de spread, isto é, a remuneração do banco na operação em questão.
Além disso, a taxa de juros é um importante instrumento de política monetária para o Banco Central, pois em geral a queda (ou aumento) dos juros tende a incentivar (ou inibir) o consumo com impacto positivo (ou negativo) sobre a atividade da economia. Em resumo, a queda dos juros pode sim, dependendo da sua magnitude, impulsionar o crescimento da economia.
Financiar ainda está caro
O estímulo à economia é favorável a todos, pois permite geração de empregos e renda, o que pode beneficiar, no médio prazo, o poder aquisitivo da população. Porém, ele só acontece se, de fato, o corte promovido na Selic for repassado ao consumidor e às empresas.
Em outras palavras, a queda dos juros só favorece o consumo se o juro cobrado nos empréstimos pessoais e nos empréstimos para empresas também cair. E isso depende das instituições financeiras, varejistas e operadoras de cartão de crédito, e não do Copom.
Ainda que estas instituições optem por baixar os juros cobrados nas linhas de crédito ao consumo, na mesma proporção em que a Selic foi reduzida, o impacto em termos de custo final para o consumidor será mínimo. Basta ver que o corte de 0,25 p.p. na taxa anual reflete uma redução de apenas 0,02 p.p na taxa mensal. Na prática, isso significa que, se os juros cobrados eram de 6% ao mês, eles serão reduzidos para 5,98% ao mês. Nada que valha a pena comemorar.
É hora de rever os investimentos?
Do outro lado da moeda estão os brasileiros que não têm dívidas e investem. O fato mais importante da decisão anunciada pelo Copom é que ela provavelmente marca uma reversão na tendência das taxas de juros. Em outras palavras, mesmo que a queda anunciada seja modesta, outras virão, e isso exige que o investidor reflita sobre a forma como aplica o seu dinheiro.
De maneira simplificadam pode se dizer que a queda dos juros deve diminuir o retorno da renda fixa, ao mesmo tempo em que deve favorecer a renda variável. Isto não significa sacar tudo o que está aplicado em renda fixa e redirecionar para renda variável, mas sim, repensar a alocação da parcela da sua carteira de investimentos direcionada para a renda fixa e, dependendo do prazo que pretende manter o dinheiro aplicado, aumentar a parcela direcionada para renda variável, notadamente ações.
Se a sua intenção não é investir por um prazo mais longo do que 12 meses, ou não se sente confortável com o risco da renda variável, vale a pena aumentar a parcela de investimentos em renda fixa pré-fixada (ex. fundos de renda fixa, CDB Pré, LFT no Tesouro Direto), que tendem a oferecer um retorno mais atrativo do que a renda fixa pós-fixada (ex. fundos referenciados DI, CDB Pós, NTN no Tesouro Direto) em épocas de queda dos juros.
Porém, se você ainda não acumulou o suficiente, não tem estômago para fortes flutuações ou deve precisar do dinheiro em breve, sua melhor opção são os fundos multimercados com renda variável. Estes fundos direcionam, no máximo, 49% dos seus recursos em ações, de forma que você consegue alguma exposição ao mercado, mas não de forma excessiva.
Ainda na renda variável, uma opção relativamente segura é o novo fundo PIBB, que investe nas 50 ações mais líquidas do mercado e tem garantia de retorno nos primeiros 360 dias.
Fonte: Fernanda de Lima – UOL NEWS/infomoney - 14/09/2005
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