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Idosos: Previnam-se contra a pneumonia
10 de julho de 2003


Pneumonia mata. E mata cada vez mais em São Paulo. Nos últimos três anos, os casos de morte por causa da doença subiram 27,7% na cidade. Em 2002, o número de vítimas ultrapassou pela primeira vez 3.500. A maior parte dos casos acontece nessa época – julho e agosto –, e as vítimas preferenciais são os idosos da zona leste.

Segundo especialistas, os motivos que levam ao crescimento dos casos fatais vão desde a mutação da bactéria responsável pela doença, que hoje é considerada mais forte, até fatores culturais da população. O pneumologista Silvio Luiz Cardenuto, professor da Santa Casa, acredita que as pessoas conseguem identificar a doença, mas não procuram a ajuda certa. “Hoje é costume ir à farmácia antes de procurar um médico.”

Segundo ele, a própria mutação das bactérias é acelerada pelos costumes dos brasileiros. “Não é o único motivo, mas o alto consumo de antibióticos no País tem contribuído para que a bactéria fique mais forte.” Para o pneumologista, o progressivo envelhecimento da população colabora para o aumento das mortes. “A pneumonia é mais dura entre idosos. Com a população mais velha, é natural uma variação nos casos fatais.” O clima da cidade e doenças correlatas são os outros fatores citados pelo médico como causa de pneumonia.

Neste ano, os índices do primeiro trimestre mostram que o problema continua crescendo. De janeiro a março foram 793 casos, 20 a mais do que no mesmo período do ano passado. A campanha para brecar o avanço é feita em conjunto pelas as Secretarias estadual e municipal da Saúde.

A principal arma é a vacinação contra gripe. Em muitos casos, a pneumonia ocorre depois de um resfriado comum ou gripe. Apesar de a Prefeitura estimar que nos últimos três anos tenha vacinado entre 62% e 66% dos idosos na capital – índices próximos da meta, de 70% –, a cada três pessoas que morrem de pneumonia, duas são maiores de 65 anos.

Para Antônio José Appezzato, titular da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), os idosos são as principais vítimas porque já carregam um histórico clínico cheio de problemas. “Um diabético, por exemplo, tem mais facilidade de pegar por causa do um processo infeccioso.”

Na zona leste, a situação dos idosos é ainda mais dramática. Nos últimos três anos, o número de vítimas chegou, em 2002, a mais de 800. A região – onde se concentra grande parte dos paulistanos – é também uma das que apresentam maior crescimento de vítimas por causa da doença. De 2000 a 2002, o avanço das mortes chegou a 35,3%. No ano passado, quase 1.300 pessoas foram mortas pela doença. Os bairros mais atingidos são a Penha e Mooca, onde, em 2002, morreram mais de 400 pessoas. O índice da zona leste é menor do que a região central (47,76%).




A falta de cursos de especialização e instituições para residência em geriatria é o motivo mais apontado para a deficiência desses profissionais no mercado. Na capital paulista, são apenas 36 geriatras para atender 600 mil idosos dependentes da rede pública de saúde - 13 da municipal e 23 da estadual. No Brasil, especialistas com título são apenas 390, como o JT publicou ontem.

"Temos poucos centros capacitados para formá-los", diagnostica o geriatra Wilson Jacob Filho. Segundo o Ministério da Educação, há no Estado de São Paulo 31 residentes em geriatria, para 35 vagas. A quantidade de residentes é 25 vezes menor que em pediatria e 18 vezes menor que em obstetrícia e ginecologia.

No Estado, há vagas em seis instituições - Hospital das Clínicas de São Paulo e de Ribeirão Preto, Santa Casa, hospitais do Servidor Público Municipal e Estadual e Hospital São Paulo. "O problema é que para ter uma vaga de residência, hoje você tem de arranjar uma bolsa para o interessado", queixa-se o geriatra Clineu Almada Filho.

O número de vagas no Estado é pequeno, mas responde por 61% das existentes no Brasil. Segundo o MEC, há no País 57 vagas de residência em geriatria, mas só 47 pessoas. Outras cinco instituições estão distribuídas no Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Para obter título de especialista, é preciso que o candidato faça uma prova, na qual o currículo (residência conta) tem peso 3. "A aprovação varia de 35% a 40%", informa Jacob. Quem aplica a prova é a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), junto com a Associação Médica Brasileira (AMB). No ano passado, 32 pessoas receberam o título de geriatra. Em 2001 e 2000, foram 26 e 37 respectivamente - um salto se comparado a 98, quando foram apenas 10.

Especialistas também reclamam que poucas universidades incluíram no currículo de medicina a matéria. "Na USP, são só 12 horas de geriatria em 6 anos de curso", diz Sérgio Paschoal, responsável pela saúde do idoso na Prefeitura.

"Até há pouco tempo, havia pouco interesse dos estudantes, porque o geriatra lida com doenças mais crônicas que agudas e não vivemos numa sociedade a longo prazo", opina a geriatra Andréa Prates, do Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento Saudável.


Fonte: Jornal Folha da Tarde - Autor: Alvaro Magalhães, Camilla Haddad e Aryane Cararo



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