Estudo da Cepal mostra que só duas em cada cinco pessoas de idade têm renda nas áreas urbanas da região
BRASÍLIA - Ser idoso na América Latina pode ser considerado sinônimo de ser pobre. A avaliação está em estudo da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) que conclui que apenas dois de cada cinco idosos da região têm renda do sistema de seguridade social ou de trabalho nas áreas urbanas. Na zona rural, essa proporção é de apenas um em cada cinco.
O documento revela ainda que os idosos acabam sendo obrigados a buscar empregos informais e de baixa qualidade para complementar sua renda, mas recebem menos do que as pessoas na faixa etária de 50 a 59 anos pelo mesmo trabalho.
Segundo a Cepal, a população idosa é de pouco mais de 41 milhões na América Latina, mas este número deve chegar a 184 milhões em 2050, quando o número de pessoas acima de 60 anos na região será maior que o de crianças. Segundo o estudo, "a velhice na América Latina se dá num contexto de muita pobreza, persistente desigualdade social e baixa cobertura da seguridade social".
Necessidade crescente de complementar a renda
Segundo o organizador do trabalho da Cepal, José Guzmán, a pior situação para os idosos está na Venezuela, na Colômbia e na República Dominicana, onde 60% desta população nas áreas urbanas não têm qualquer tipo de renda. A melhor situação está no Uruguai, onde esse percentual é de 10%. No Brasil, segundo Guzmán, a taxa é de 28%.
Guzmán lembra que um dos movimentos que mais se observa no mercado de trabalho brasileiro é o de idosos que buscam trabalho para aumentar sua renda: em 1990, eles representavam 20% da população idosa, taxa que subiu para 25% em 1999:
- Isso mostra que os idosos estão sentindo cada vez mais necessidade de encontrar formas de complementar sua renda. O problema é que os empregos estão cada vez mais informais e os idosos têm cada vez menos direitos.
Unificação de assistência social para valorizar idoso
Este é o caso, por exemplo, do técnico em máquinas Joaquim Corrêa Serpa, de 71 anos. Aposentado pelo INSS desde 1997, Joaquim recebe hoje R$ 376 por mês e precisa continuar trabalhando para conseguir pagar suas despesas.
- Hoje em dia, tenho que fazer "bicos" para complementar minha renda no mês. Ganho um pouco aqui e ali - afirma o aposentado, que, com o trabalho extra, consegue receber cerca de cem reais a mais.
A secretária Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, reconhece que o Brasil terá que encontrar, a cada dia, mais formas de fazer investimentos em políticas que beneficiem a população idosa.
Segundo Márcia, isso inclui a realização de campanhas que valorizem o papel do idoso na sociedade e também a criação de um sistema único de assistência social, pelo qual cada município do país possa receber recursos da União, com autonomia para definir de que maneira o dinheiro deve ser investido em programas para a população idosa.
Márcia lembra que o país tem hoje 14,5 milhões de idosos, o que equivale a 8,9% dos brasileiros. Mas em 2025 este número deverá ter subido para 32 milhões de pessoas.
- O Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos em 2025 - ressalta a secretária de Assistência Social.
Em 20 anos, expectativa de vida aumentou bastante
O fato é que a expectativa de vida da população brasileira, lembra Márcia, passou de 59 anos em 1980 para 68 anos em 2000, no caso dos homens, e de 65 anos para 74 anos, no das mulheres.
Do total de 14,5 milhões de idosos brasileiros, quase dez milhões recebem benefícios da previdência. Outros 600 mil recebem um salário-mínimo por meio da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas).
Neste caso, estão as pessoas que têm mais de 65 anos e que têm uma renda per capita de meio salário-mínimo.
- O problema é que, em muitos casos, apenas os medicamentos que um idoso precisa utilizar já consomem a maior parte do que ele recebe - explica a secretária.
A matéria jornalística aqui reproduzida contém indicação de sua fonte original e, assim, não constitui violação aos Direitos Autorais dos seus proprietários. Para citar estas informações, use também a referência a fonte original.
